A reflexão que permeia o texto está baseada nas constantes mudanças ocorridas na sociedade atual e suas possíveis repercussões. O autor chama atenção inicialmente para um processo de “crise” que acontece sobre os pilares da sociedade: o Estado, a família, a escola, a Igreja e o trabalho. Atribui como fatores desencadeadores desse processo a imposição de valores advindos da globalização e a falta de respeito quanto ao modelo de vida de cada cultura.
Quanto a esse aspecto, acreditamos que o autor pontua algumas questões bastante relevantes. A impressão que nos dá é de que precisamos repensar, enquanto cidadão, o nosso “fazer social”. De fato, estamos apenas absorvendo e repetindo comportamentos sem refletir sobre as perdas e ganhos desse processo. Devemos inclusive, como o autor sugere no texto, propor uma nova dinâmica de convivência social e assim, ousar, numa postura diferenciada.

A DESISTORIZAÇÃO DO TEMPO E PERENIZAÇÃO DO PRESENTE

No tópico “A desistorização do tempo”, o autor comenta a importância do conhecimento da nossa história enquanto nação. Ele expressa certa indignação quanto à forma como foi comemorada a festa dos 500 anos de Brasil, chamando atenção mais uma vez sobre a “relação de posse” e imposição de paradigmas. Aqui o autor resgata, através do paralelo que ele faz entre Marx, Jesus e Freud, a necessidade de compreendermos a evolução da nossa história e do tempo afirmando, assim, que sem isso corremos o risco de nos perdermos no vazio.
Neste aspecto concordamos com o autor e lembramos inclusive, a relação que fazemos com a construção da nossa identidade nacional. Não dá para pensar num Brasil eternamente dependente e muito menos, deixar de contextualizar os fatos.
Em relação à perenização do presente, Betto afirma que a sociedade contemporânea considera um pensamento único, um modelo ideal, que é capitalista neoliberal. Acredita-se que este modelo perdurará eternamente, sem mudanças. E mesmo sabendo que este modelo gera em nós uma imensa insatisfação, reproduzimo-lo, sem refletir, sem imaginar que podemos criar uma realidade diferente da que nos é imposta. Isso é grave, segundo o autor, porque o ser humano precisa do sonho. Somos incompletos e temos necessidade de ideais.
Ainda segundo o autor, a cultura, que a princípio tem o papel social de aprimorar nosso espírito, nossa consciência, tem perdido espaço para o mero consumismo. É a cultura de entretenimento, controlada pela mídia publicitária, que apenas está interessada em ganhar mercado consumidor.
Concordamos com o autor, pois sabemos que a publicidade tem hoje um papel fundamental na difusão da cultura. O entretenimento que se vê hoje na televisão, por exemplo, é rapidamente difundido, é simples, digerido com facilidade por todos. Esta cultura, realmente, não é crítica, não traz reflexões nem novos ideais: é alienante. De fato, muitas vezes fica difícil discernir entre o que nos serve como cultura e informação relevante e o que não passa de manipulação consumista.
No entanto, não somos pessimistas ao ponto de não acreditar que existam novas propostas para o futuro. Pensamos que a sociedade, de uma forma geral, tem se conscientizado a respeito dos graves problemas que vivemos, sejam eles ambientais ou sociais. Talvez pela insustentabilidade da situação a que chegamos, uma mudança tem-se feito necessária e inevitável. Sofremos forte domínio cultural, e isso nos traz dificuldade para pensar e agir de forma diferente, mas sabemos que é possível mudar, que existem muitos que já estão tentando, e que podemos também tentar fazer diferença no mundo.

A EROTIZAÇÃO PRECOCE

Com o passar dos anos, em nossa sociedade, podemos observar que houve uma modificação na relação de consumo entre as pessoas. O comportamento consumista mudou a ponto de influenciar até as nossas crianças e adolescentes. O autor do texto afirma que, como as crianças não possuem o amadurecimento necessário para discernir entre o valor de compra e o valor de uso do produto desejado, elas desejam ter tudo que vêem e lhes atrai, e assim a indústria de artigos infantis tira proveito disso, faturando muito nesse segmento.
A “erotização precoce”, que é caracterizada por esse comportamento de consumismo exagerado por parte das crianças, é estimulada para que as mesmas criem o desejo de sempre ter algo, e assim acabem pedindo aos pais aquele objeto que almejam. Estes, por sua vez, acabam sempre cedendo ao desejo dos filhos, como forma de evitar aborrecimentos ou de não frustrá-los. Como resultado, a criança chega à puberdade cheia de insegurança e, como é nessa fase que o jovem começa a adequar a razão à realidade, e a fantasia passa a ficar em segundo plano, o que muitas vezes resulta numa crise. É quando percebemos que não podemos viver apenas de sonhos e fantasias e temos que nos adequar à nossa realidade. E o real muitas vezes pode ser assustador.
Acreditamos que o consumismo desenfreado na vida das crianças e adolescentes acaba gerando, na vida adulta, uma continuação viciosa de todo esse processo. E, a partir dessa perspectiva consumista que se instala nas pessoas, podem-se desenvolver muitas vulnerabilidades. Isso é bastante vantajoso às indústrias, uma vez que só estão interessadas em vender seus produtos cada vez mais.
Outro aspecto relevante do texto diz respeito à influência que a TV exerce no comportamento dos jovens. Frei Betto afirma que é através da fantasia que a TV modifica o comportamento dos jovens, uma vez que deixa de estimular a brincadeira que se fazia por pura fantasia em detrimento de uma programação que muitas vezes sequer é adequada. Além de concordamos com o autor sabemos que não são apenas os mais jovens que sofrem essa influência. Talvez seja mais nocivo aos mais jovens por interferir na construção do seu entendimento de mundo, pois seus conceitos, personalidade, caráter, ainda estão em processo de formação. Por isso, devemos ficar sempre atentos como pais, educadores, enfim como cidadãos, pois é fato que ao longo dos anos a TV, principalmente através das novelas, dita padrões de comportamentos que devem ser seguidos como seitas. É a noção de que existe um modo ideal e padronizado de ser, de falar, de se vestir, de agir, e isso, se torna muito perigoso, principalmente para uma mente em formação.
Frei Betto ainda faz um paralelo de questionamentos sobre os valores e as interferências que são comuns na nossa sociedade comparando ao seu passado (infância) e as suas experiências de vida. Ele lembra com saudosismo de sua infância e vai fazendo uma comparação com os dias mais atuais. Afinal, acreditamos que a construção de valores na vida das pessoas é um processo resultante de todo caminho que elas percorrem ao longo da suas vidas.

A PRIVATIZAÇÃO METAFÍSICA

Em relação ao tópico “A Privatização Metafísica”, concordamos quando o autor (Frei Betto) afirma que “ficar doente, ter uma deficiência física ou um filho com uma anomalia mental, é caso de esconder debaixo do tapete”. Porém, apesar de vivermos numa sociedade em que, inconscientemente, incorporamos os modelos do consumismo, discordamos da generalização. Felizmente, há pessoas que realmente tem consciência de que o doente, o extraído, o escanteado, o diferente é um ser vivo e precisa de nossa ajuda para vencer ou conviver com suas limitações ou diferenças sem precisar se angustiar ou se sentir inferior por fugir dos padrões que a sociedade considera como normais.
Em se tratando de competição intelectual, a vaidade, o medo de perder sua colocação, leva o indivíduo ao extremo para permanecer no degrau em que se encontra. É difícil elogiar o outro no local de trabalho, é difícil encontrar colegas que realmente estimulem o outro a continuar por acreditar que pode fazer a diferença e trazer benfeitorias para todos no ambiente de trabalho ou em qualquer outro ambiente. Acreditamos que educadores, pais, crianças, diretores de empresas e de escolas, estudantes, enfim, nenhum nasce com preconceito. “A intolerância é assimilada e fomentada pela sociedade, que muitas vezes, é resistente quando se trata de lidar com a diferença” (Betto).
Por que surge a discriminação?
Por causa da necessidade que todos nós temos de qualificar as coisas e as pessoas dentro do que é socialmente considerado normal. Desde os tempos antigos, o homem se organiza socialmente centrado em si mesmo. Julgamos os demais pelas roupas que usam, pelos alimentos q eu consomem, por sua história e sua moral. Os grupos são formados de acordo com a classe social, idade, cultura, religião, região onde vivem, estética. Quando uma pessoa ocupa uma posição que, pela normalidade, não faz sentido, surge o estranhamento.
Concordamos que o primeiro passo para combater a intolerância é aceitar que ela existe. A resistência às pessoas com deficiência e/ou alguma anomalia, é fruto do desconhecimento sobre o assunto. Classe social inferior a nossa, etnia diferente da nossa, costumes e cultura que divergem do que estamos acostumados causam uma enorme dificuldade de aceitação.

ALTERIDADE E CULTURAS PARALELAS

Outro aspecto do texto que consideramos relevante é a questão da “alteridade” que segundo o autor é a capacidade do sujeito em apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo da sua diferença. Essa alteridade não deve ser vista como algo apenas de sujeito para sujeito mas, sim, estendida para a natureza (animas, plantas, rios, mares, etc..)
Concordamos com o autor, afinal de contas, qualquer ser vivo, assim como o meio ambiente (fauna e flora) merecem ser respeitados. Porém, infelizmente, vivemos numa sociedade onde existe toda uma cultuação à beleza, ao dinheiro, etc... e, onde as pessoas tendem a “padronizar” costumes e comportamentos. Desta maneira, aqueles que não se encaixam nesse “padrão” são discriminados e excluídos sem a menor piedade. Podemos citar como exemplos: o deficiente físico, o idoso, o homossexual, etc...
Se não conseguimos estabelecer uma relação de respeito entre nós ditos “seres civilizados” imagine como estender isso à natureza. As catástrofes ambientais estão aí para provar isso, onde após décadas de invasão e de destruição do meio ambiente por parte do homem agora temos que lidar com a “fúria” da natureza que nada mais quer do que recuperar o que lhe foi retirado. Nesse ponto concluímos que apesar de já haver um movimento de conscientização por parte de alguns, sabemos que a alteridade em sua plenitude ainda está longe de se tornar algo de fato real entre nós. Atualmente, fala-se muito em deixarmos um planeta melhor para os nossos filhos, mas não se fala em deixarmos filhos melhores para o nosso planeta.
Numa sociedade com tanta desigualdade social se torna comum a concepção de que há aquele que é “detentor do saber” e aquele que “não sabe nada”, portanto precisa aprender. Esse é outro questionamento levantado pelo autor que fala exatamente da tendência que temos em “colonizar” o outro, partindo do pressuposto de que “eu sei tudo” e o outro “nada sabe”. Principalmente se esse outro não tiver um diploma, como se o saber estivesse resumido ao que se aprende em sala de aula e não considerasse as experiências de vida e a subjetividade do sujeito. Nesse aspecto também concordamos com ele, pois infelizmente, a própria sociedade bastante competitiva já nos condiciona a isso. O que não significa que não devemos nos questionar. Não existe um saber maior que outro, mas sim formas de conhecimentos diferentes. E, o fato de serem diferentes não significa que sejam mais ou menos importantes. “Todo mundo é ignorante, só que em assuntos diferentes”.
Por fim, o autor fala da falta de equilíbrio emocional que temos para lidar com nossos conflitos, sejam eles oriundos no ambiente trabalho, na família, nos relacionamentos, enfim, no nosso dia-a-dia. Concordamos com ele, mas achamos que faltou uma análise um pouco mais aprofundada desse aspecto por parte do mesmo. Afinal, trata-se de um assunto bastante preocupante, pois hoje vivemos num mundo onde desde a infância os pais procuram satisfazer todos os desejos dos filhos, sem permitir muitas vezes que estes passem por algumas situações de frustrações. Ao crescerem tornam-se adultos despreparados emocionalmente e na menor situação de frustração, de perda, se descontrolam a ponto de muitas vezes causarem danos irreversíveis para eles e para a sociedade, uma vez que não foram preparados para a vida real, onde existem problemas, perdas e frustrações. Há uma intolerância e imaturidade para lidar com os conflitos, o que acaba resultando algumas vezes em atos de extrema violência.

EDUCAR PARA A SUBJETIVIDADE, CONTEXTUALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO POLÍTICA

A vida moderna nos faz perder a dimensão do ser, nos tornando cada vez mais dependentes do ter. Somos mais na medida em que temos mais. Frei Betto afirma que os nossos bens finitos, materiais, passaram a ter prioridade sobre os bens infinitos – a dignidade, a liberdade, a paz, etc. Assim, perdemos a capacidade de meditação, de encontro consigo mesmo. Concordamos com as idéias do autor, pois acreditamos que é preciso refletir sobre essa lógica de consumo que nos é imposta pela mídia, que nos faz querer sempre mais em termos materiais e nos faz esquecer nosso valor intrínseco, nossa subjetividade.
Outra perspectiva lançada pelo autor é a da generosidade, a capacidade de perceber o outro e respeitá-lo, reconhecendo seus direitos e sua dignidade humana. Segundo ele, é a partir do diálogo que se consegue entender o outro, que se pode desviar um pouco o olhar de si mesmo, percebendo a riqueza do grupo, vivendo em comunidade.
Para Betto, o desafio que se lança é de como transformar os cinco pilares da sociedade, para que se tornem comunidades de resgate da cidadania e de exercício de alteridade democrática. Considerando o poder do mercado e da mídia, acrescentaríamos ainda o papel das empresas, da imprensa, da televisão para o alcance deste objetivo. A mídia é um importante instrumento comunicação que pode ser utilizado para manipulação e alienação das massas. Mas pode também ser um espaço de educação para a democracia e exercício da alteridade. Depende da vontade dos que formam sua programação.
As informações veiculadas pela mídia circulam pelo mundo cada vez mais rapidamente. Recebemos esses dados de forma tão displicente que muitas vezes nem nos damos ao trabalho de pensar sobre eles. Nesse sentido, Betto afirma que se faz necessária uma formação para selecionar a informação pertinente. Essa formação tem a ver com a criação de espaços de educação política, cidadã e democrática.
Educação política é, também, um dos pontos destacados pelo texto. O nojo que a maioria dos jovens tem da política brasileira é um fator preocupante. A aversão que sentem faz com que deixem de exercer a cidadania, é causa do analfabetismo político da maioria dos brasileiros e faz com que continuemos sendo manipulados por uma minoria que deseja manter o poder. Para o autor, é preciso resgatar o sonho, o ideal de sociedade e de política, sobretudo dos jovens, para que se possa participar do sistema democrático de maneira mais consciente.
Compartilhamos dessas idéias e acreditamos que a escola é um espaço ideal para essas discussões de política e cidadania. Como profissionais da área da educação, pensamos ser nosso dever ético fazer da escola um espaço de exercício de alteridade, ou seja, de diálogo e respeito mútuo, onde se possa pensar o mundo criticamente, entender a política, construir ideais e valores humanos, formar cidadãos.

1 Comment:

  1. Anônimo said...
    nossa!! parabéns pela reflexão e percepção aprofundada a respeito do texto de Frei Betto. tenha certeza de que irá contribuir muito para meu trabalho.

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