Primeiramente gostaríamos de enfatizar que este debate foi proferido pelo pesquisador Leonardo Boff em 2003 numa Conferência Nacional elaborada para um público-alvo específico: os grandes empresários. Nesta perspectiva, observamos que o vocabulário, as idéias discutidas e a forma de abordar o tema, tinham como propósito maior sensibilizar os participantes para “a responsabilidade social e ética” no desenvolvimento de suas respectivas empresas. Foi observado durante a leitura do texto, que no decorrer da explanação das suas idéias o autor busca situar, mesmo que por vezes implicitamente, as relações de poder e as conseqüências sociais destas.
Desta forma, Boff (2003) inicia sua reflexão chamando atenção para uma crise estrutural que, segundo ele, “atinge os fundamentos da civilização”. Neste aspecto, observamos que o autor é incisivo nas suas colocações e assim, responsabiliza cada um de nós cidadãos no sentido de encontrar saídas inovadoras para possíveis mudanças na humanidade como um todo.
No que se refere aos três eixos “pilares” para o desenvolvimento dessa crise, o primeiro diz respeito ao que ele chamou de “apartação social”. Aqui ele enfatiza a exclusão social advinda das condições de miséria e pobreza, como algo freqüente na rotina das pessoas. Ele chama atenção para “o risco que efetivamente a humanidade aceite como inevitável essa apartação mundial”, uma vez que já está inserida na visão de mundo das pessoas. Neste aspecto acreditamos que o autor consegue mobilizar questões pertinentes a nossa rotina e lembra que os valores como solidariedade e cooperação devem ser a prática diária do cidadão.
Quanto ao segundo eixo da crise mundial, “o sistema de trabalho”, o autor é determinista. Ele responsabiliza a má distribuição de riqueza e as diferenças entre o capital especulativo e o capital produtivo como fatores decisivos para o crescimento do desemprego. Sabemos que o progresso se torna inevitável nos dias atuais uma vez que representa um avanço para todos nós, porém, em contrapartida, suas conseqüências sociais podem ser desastrosas, pois criam-se alguns empregos em detrimento de vários outros. Neste aspecto, concordamos com Boff quando ele afirma que a tecnologia além de trazer mudanças sociais, traz conseqüências, portanto, devemos estar atentos e preparados para elas.
O terceiro e último eixo refere-se ao “alarme ecológico”. Neste enfoque, o autor nos parece inovador quando pontua a relação do homem com os ecossistemas e fala sobre a “alfabetização ecológica”.
De acordo com Boff, a relação do homem com o planeta tem provocado muitos impactos na natureza. O ser humano ocupa grande parte do planeta e hoje é visível à degradação que ocorre por causa do consumo desenfreado e da falta de cuidado com o ambiente.
As próximas gerações poderão herdar todos os erros que comentemos e a falta de cuidado que deixamos de ter com o planeta e com os seres que aqui vivem. Assim sendo, existem muitos processos de degradação que se espalham pelo planeta e tem sido difícil frear novos incidentes por causa do consumo e da cobiça.
A alfabetização ecológica é uma solução que é proposta no texto, uma saída desse estado de destruição que nos encontramos. Iniciar esta educação ecológica através dos empresários realmente seria um bom ponto de partida e, posteriormente, a idéia de ampliarmos esta conscientização através da educação também, porém o importante mesmo é que as pessoas devem ter a educação ecológica dentro de si, porque se não for assim teriam que existir fiscais para controlar as pessoas. Quando o sentimento de preservar e cuidar está dentro de nós, somos nossos próprios fiscais e fiscais dos outros também. Os métodos de comunicação com as pessoas podem ser diversos, mas o sentimento de preservação necessita estar presente dentro de nós.
Concordamos com o autor que devem existir reflexões, cuidados e conscientização da população em relação ao nosso planeta e tudo que faz parte dele, pois não estamos à parte dele e sim integrados em um só sistema, com todos e tudo que existe na Terra.

No tópico Razão e Afeto, Boff, inicialmente, cita o testamento de Sagan: “nós criamos o princípio da autodestruição”. Significa que temos poder suficiente para devastar o planeta inteiro. É necessário, portanto, impedir que isso aconteça, tomando atitudes mais responsáveis.
Citando Betinho, o autor afirma que nossa crise é de sensibilidade. Nossos problemas demandam uma revolução dos sentimentos, um resgate da nossa essência humana mais profunda, que fará com que passemos a enxergar melhor o outro, a evitar o sofrimento humano, a fome, a violência, a miséria.
Boff comenta a relação entre razão e afeto, afirmando que nós “afetamos a realidade e somos afetados por ela”, e que essa relação forma nossa racionalidade. Assim, a razão se funda no afeto, nossos valores se formam a partir dos sentimentos.
Por outro lado, sem a razão, os sentimentos desenfreados se transformariam em delírio hedonista, e apenas o prazer importaria. A razão disciplina e direciona o afeto. Segundo Boff, “há uma dialética dramática entre razão e sentimento”. Portanto, o ideal é o equilíbrio.
A idéia é criar uma comoção ética através do resgate da afetividade que é parte da nossa natureza, provocando a mobilização necessária para mudar nossos comportamentos.
Concordamos com o autor, pois acreditamos que nossa tendência natural é de sentir pelo outro, ajudá-lo, não deixá-lo sofrer. Estamos perdendo esses sentimentos por causa da lógica do mundo globalizado e competitivo, que prega a vitória a partir da negação do outro, a falta de responsabilidade com o futuro. Tudo que importa é vencer e acumular. No outro extremo, percebemos que a mídia impõe-nos uma filosofia de prazer, de forma que procuramos preencher nossos vazios afetivos através de prazeres mercadológicos, produtos. O caminho da mudança é mesmo o do sentimento, do amor, sem nunca deixar de lado a responsabilidade, o cuidado com o outro e com o planeta em que vivemos.

Ética do Cuidado, da Solidariedade e da Responsabilidade

Segundo Boff, o cuidado é uma atitude amorosa para com a vida, protege a vida, busca a expansão da vida. E toda vida precisa de cuidado.
Concordamos com o autor quando ele comenta a seguinte fábula: O cuidado é o orientador antecipado de todos os atos. Tudo o que o ser humano faz tem que fazer com cuidado, senão pode ser desastroso. Por exemplo, se não tivermos cuidado com o nosso corpo, nossa alimentação, com a água que usufruímos, com a natureza em sentido geral, como é que vamos sobreviver? Quem sobreviverá no Planeta Terra? Por isso o autor afirma: O cuidado é a dimensão em todos os aspectos. O que seria do bebê se não houvesse cuidado? Logo, faz-se necessário a elaboração de uma ética do cuidado para funcionar com um consenso mínimo a partir do qual todos possam conscientizar-se de que precisamos desenvolver uma atitude cuidadosa, protetora e amorosa em todos os aspectos.
Em se tratando de solidariedade, somos seres humanos no momento em que amparamos o outro com afeto quando esse outro necessita; é incluir o outro respeitando suas diferenças e limitações; é compartilhar e ajudar a todos em qualquer ocasião, por mais complicada que seja ou que possa parecer, sem pensar em tirar proveito da situação, ou seja, sem querer receber algo em troca. Se cada um de nós, seres humanos, tirássemos uma tarde na semana, por exemplo, para visitar os enfermos em hospitais, ou um vizinho doente na comunidade, quanta compreensão, quanto respeito, quantas palavras de alento e carinho surgiriam e seriam oportunas para a melhora da auto-estima desse cidadão, facilitando assim o seu restabelecimento total ou parcial. Por isso, é que concordamos com autor quando diz que uma sociedade, uma comunidade ou uma empresa, só funcionará se criar laços de cooperação. Pois, a partir daí, tudo no mundo se tornará benevolente e não destrutivo.
O ser Responsável passa pelo fato de se ter consciência clara, de atribuir a você a obrigação de responder pelos seus próprios atos sem que transfira para os outros as conseqüências deles. Nossas conquistas como os nossos prejuízos são de nossa única responsabilidade, por isso temos de meditar antes de agir, evitando que os nossos prazeres se apóiem no sofrimento de outras pessoas. Não existe o dia em que a gente se levanta e começa a ser responsável. Ao chegar à adolescência, é que descobrimos que o compromisso com as nossas coisas e com as tarefas da casa começa desde cedo e é um processo construído aos poucos, no dia-a-dia. Podemos exemplificar da seguinte maneira: Se uma criança após brincar guarda todos os brinquedos que ela tirou do lugar, irá aprender que aquilo é responsabilidade dela e não das outras pessoas.
Será que existe um jeito de ser responsável?
É difícil responder, mas quando entregamos uma encomenda em dia, entregamos os deveres escolares em dia, damos banho no cãozinho e limpamos sua área, etc... estamos exercendo pequenos atos de responsabilidade que vão ganhando volume no nosso dia a dia. Segundo o texto, é certo pensar e acreditar que o bem que fazemos contamina, é como uma luz que erradia, por isso precisamos ter cuidado, viver com mais solidariedade no trabalho, na família, com os amigos e vizinhos respeitando o espaço, o direito do outro. Temos de pensar bem antes de proferir a palavra, só assim , poderemos viver com mais civilidade.

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